Diagramação | Tamanho e tipografia recomendada para livros infantis
Imagem sob licença Creative Commons por StockSnap |
Diagramar um livro inclui mais que escolher o tipo de letra e ajustar as margens antes de fechar o arquivo para subir na plataforma ou enviar para a gráfica. Esse processo também envolve ter em conta a melhor experiência do leitor enquanto realiza a leitura, um livro com letra muito pequena pode ser muito difícil de ler, um espaçamento simples pode fazer com que seja mais fácil de confundir as linhas e por isso é importante saber quem é o nosso público alvo. Assim, podendo fazer a melhor escolha para que esses leitores possam ler da maneira mais confortável possível.
Aqui no blog já temos um post/vídeo sobre diagramação e outro explicando qual é o melhor tipo de fonte para a sua obra que podem ajudar vocês!
Livros Infantis.
Ao fazer um livro infantil, é importante definir qual é a idade do pública alvo, já que dependendo do nível de escolaridade as crianças podem ter mais facilidade ou mais dificuldade ao ler um livro com “configurações padrão”.
Tamanho da fonte:
Geralmente os livros infantis trabalham com tamanhos entre 12 a 18, quanto maior a letra, mais fácil a identificação dos símbolos gráficos para interpretar as palavras. Porém, reforçamos que é importante ter em conta a idade, por exemplo, crianças de 10-11 anos podem se sentir incomodadas com letras tão grandes.
É importante entender que crianças no início do processo de alfabetização ainda não tomam a palavra como um todo, mas ainda realizam o reconhecimento de letra por letra. De acordo com pesquisas da Teoria da Gestalt, nós interpretamos a palavra como algo só, um todo, e nosso cérebro preenche qualquer lacuna que falte ou até mesmo faz com que seja possível ler sem problemas uma palavra com letras invertidas, como no exemplo abaixo.
Como explica o psicólogo Alexandre Bortoletto de Programação Neurolinguística: “Desde a nossa formação, o cérebro é uma máquina de aprender. Ele já aprendeu onde estão as letras. Ele já sabe que aquele desenho [da palavra] corresponde a algo que ele já conhece, então ele vai preenchendo as lacunas”.
De acordo com Burt (1959, apud Coutinho, 2006) os parâmetros tipográficos mais recomendados para livros infantis são:
Uso das fontes
De acordo com o Designer Paulo Heitlingler, é recomendado usar o mesmo tipo de fonte no corpo do texto, já que esse uso exclusivo pode ajudar em casos de dislexia e também fazer com que as crianças foquem melhor a sua atenção.
Segundo as pesquisas de Miranda e Vasconcelos, o uso de diversos tipos de letras com serifa e sem serifa, além de uso de caixa alta, itálico e outras variações gráficas não apresentam fins pedagógicos já que não auxiliam a leitura dos textos tento em conta a legibilidade. O que não significa que você não possa usar esses recursos, já que muitos deles chamam a atenção do leitor, mas sim ter cuidado na hora de escolher onde utilizar esse tipo de letra.
Espaçamento
Orientação do texto e quebras: no caso dos livros infantis, a configuração justificada deve ser usada somente se for absolutamente necessária. Existe uma preferência inicial por texto com orientação à esquerda, sem divisão de palavras já que quebram o ritmo de leitura para as crianças. Também é importante que a quebra de linha ocorra de acordo com o sentido da frase. A partir do 3º ano, o texto já passa a ser justificado e com separações silábicas assemelhando-se aos livros de adultos.
Escolha da tipografia
No mundo da diagramação existem diferentes fontes diferente, mas algumas delas são mais recomendadas para livros infantis que melhoram a legibilidade, esse tipo de fonte pode ser chamado de caracteres infantis.
Fontes desenvolvidas especialmente de acordo com as preferências dos professores das escolas primárias são: Century educational e Gill Schoolbook. É possível também utilizar outras fontes, porém é importante ressaltar que exista uma diferença entre as letras a, o e g para não confundir a leitura.
Como é no caso da fonte Avant Garde Gothic que não possui essa diferença.
Com serifa ou sem serifa?
Existe um debate grande sobre o uso de letras com serifa e sem serifa. De acordo com pesquisadores, o uso da serifa facilita a identificação de letras evitando confusões e espelhamentos que ocorrem na escrita infantil, além de guiar a leitura corrida. Porém, existem outras pesquisas que apontam que as letras sem serifa se assemelham mais ao tipo de letra manual que as crianças utilizam no seu dia-a-dia no processo de alfabetização.
De acordo com uma pesquisa realizada por editores e designers da Oxford University Press, utilizando a fonte Century (com serifa) e a fonte Gill Sans (sem serifa), foi demonstrado que as crianças preferiram a fonte sem serifa porque demonstravam uma maior qualidade visual, apresentando fontes mais “limpas”.
Algumas fontes sem serifas recomendadas:
Para crianças a partir dos 7-8 anos, já é possível existir uma variação de livros com serifa ou sem serifa, já que outros estudos como o de Gérard e Rogiers (1998) apontam que a presença ou ausência de letras com serifa não apresentou um efeito significante na leitura.
Vocês podem encontrar mais informações sobre a produção de um livro infantil na dissertação “Tipografia para livro de literatura infantil: desenvolvimento de um guia com recomendações tipográficas para para designers“: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/26092
E você, tem uma letra favorita para livros infantis? Você já reparou nas letras dos livros infantis que leu?
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